As incrições para o Concurso Literário José Pereira Lins, promovido pela FACALE/UFGD como parte das comemorações dos 40 anos do curso de Letras, podem ser feitas até 30 de Setembro de 2011.

terça-feira, 27 de setembro de 2011

A FASCINAÇÃO DE UM OLHAR

      Nada mais triste do que um par de olhos tristes!
      Os namorados sabem disso, os poetas também.
      Deu Cristo, aos olhos, a conceituação de "espelhos da alma..." Sejam eles verdes, azuis ou pretos, castanhos ou, talvez, cinzentos. Se têm a forma da lua cheia, ou o contorno das amêndoas orientais, isso não faz a diferença. Apenas a preferência de um gosto indiscutível. Buscamos na poesia nossas referências. O apaixonado Gonçalves Dias começa por amar "uns olhos verdes, verdes, uns olhos de verde mar." Mas, logo, bom poeta que era e "fingidor", volta a sua lira noutra direção como se os olhos fossem crianças travessas, irrequietas e inconstantes, e eles mudam de cor. Assim: "Seus olhos tão negros, tão puros, de vivo luzir, são meigos infantes, gentis, engraçados, brincando, saltando, em jogo infantil, inquietos, travessos causando tormento, com beijos nos pagam a dor de um momento, com modo gentil". Laura Margarida Queiroz como a que desconfiar do galanteio do poeta, responde: "Esses teus olhos castanhos, já não são olhos: são versos." E, "os teus olhos cinzentos (contesta o poeta) ocultam a melancolia do teu viver". Nesta rinha, os mais ousados e menos românticos à semelhança de Aníbal Teófilo (não se diz ele "amigo de Deus"?) deixa de considera-lo pela cor ou tamanho e vê neles somente atributos: "Olhos feitos de mágoa e de doçura, tristes como dois anjos decaídos". O epicurista B. Lopes, tomando partido, satiriza, classificando-os de "dois orvalhos bagos de uma uva preta". Baptista Cepelos sai em defesa e aparteia. "Então, são belos como um domingo, como sinos a repicar". Não sabemos, entretanto, o que teria perturbado Osório Duque-Estrada, o celebrado autor da letra do Hino Nacional, quando confessou: "Por entre sombras escuras, vejo-os negros e tristonhos, como as negras sepulturas dos meus sonhos". Desiludido, lamenta-se Guimarães Passos: "Os olhos da mulher mais linda, são duas fontes de mentira e crime, onde dos homens a ventura finda", no que Machado de Assis discorda por inteiro e diz: "Teus olhos são meus livros. Que livro há, em que melhor se leia a página do amor?" Fagundes Varela não é tão entusiasmado como pareça, e vê nos olhos apenas "duas sílabas que lhe custam soletrar". "Nem isso", insinua Guimarães de Almeida: "Os olhos não passam de dois pensamentos materializados de tristíssimos crepúsculo..."
          E o romantismo, continua sendo o grande sustentáculo do amor e o galanteio sua maior força. Todavia, poetas à parte, que diz o Cristo? Ouça-o: 
          "São os teus olhos a lâmpada do teu corpo; se os teus olhos forem bons, todo o seu corpo será luminoso; mas se forem maus, o teu corpo ficará em trevas". 
          Assim, sejam eles verdes ou azuis, pretos, castanhos, ou talvez cinzentos; embora tenham a forma de lua cheia ou o contorno das amêndoas do oriente, vivazes ou tristes, sempre serão espelhos da alma fascinantes e autênticos pois

                             "A boca mente, 
                                            Os olhos não"



[LINS, José Pereira. A fascinação de um olhar. In: Os olhos de Deus - Crônicas Literárias. Dourados-MS: Dinâmica, 2004. p. 71-75]

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